quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As Portas do Coração


Acho que ninguém passa a vida como uma folha em branco,
sem escritos, sem rabiscos.
Tudo vai sendo escrito na alma, os momentos vão sendo registrados ,
misturando o que foi com o que deixou de ser, as grandes expectativas
com as grandes decepções.
Cada página virada traz as marcas das que passaram e com o tempo
vamos aprendendo a prudência nas relações.
Quando somos jovens é diferente, pois a esperança é tão eterna
quanto o amor que toma conta da gente.
Mas os anos nos trazem a vivência, a desconfiança e a
memória das coisas que nos fizeram mal.
Se na juventude nos jogamos de cara a cada nova oportunidade,
mais tarde aprendemos a caminhar lentamente,
olhar de longe, tentar reconhecer os riscos e buscar garantias.
Essas mesmas garantias que só são assinadas depois,
bem depois, caso existam.
A vida não nos abandona e as oportunidades vão surgindo.
Mas, com elas as feridas que se reabrem,
que revivem e fechamos os olhos a, talvez,
belos instantes de felicidade plena e eterna.
Não sabemos! Não podemos saber!
As pessoas não são iguais, mas tão parecidas!
Não queremos sonhar de novo e cair de novo, chorar de novo e
parecer tolos aos olhos dos outros...
preferimos fechar as portas do coração e olhar pela fresta,
imaginar o que teria sido se tivéssemos, pelo menos, tentado...
Queremos sempre o amor, nunca a dor que dele resulta.
Queremos o mel, a alegria e até a saudade que pode
incomodar o coração, mas dor... dor não!
Não sabemos, talvez, que seja esse o preço e que a
alegria de amar um tempo vale mil vezes
a dor cravada na alma.
Amar alguém é elevar-se ao ponto nobre da vida.
É tocar o céu e ter a terra aos seus pés.
E se mais tarde os ventos contrários nos trazem de volta,
valeu a viagem, valeram as lembranças que
carregamos e que nos sustentam.
E entre os escritos da vida, prevalecem, no fim,
o néctar que soubemos tirar das flores,
a poesia que tiramos dos amores,
mesmo daqueles que tiveram fim...
Letícia Thompson

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